A Função Social da Escola

É sempre importante refletir para que serve a escola, ou como se diz tecnicamente, qual a sua função social em uma sociedade civilizada, urbana e repleta de contradições como a nossa, na qual o direito à educação não somente é universalizado, mas também é obrigatório para todas as crianças e adolescentes.

Toda instituição social em sociedades complexas se transforma, avança para poder responder às necessidades reais do mundo. A escola responde a duas esferas básicas: a socialização dos indivíduos e, por conseguinte, a sua entrada na vida em sociedade, o preparando assim para uma vida cidadã; a oferta aos alunos da capacidade compreensiva das diversas ciências criadas e pensadas pela humanidade.

Sempre vem à tona qual papel deve ser exercido pela escola, para além dos dois pontos acima citados. Para isso, cada escola pode oferecer opções para as famílias que a procuram, em especial se tratamos de uma instituição privada; pode-se ensinar e engendrar práticas de caráter moral, de higiene, de religiosidade, de obediência e de civismo.

Depende apenas saber qual a missão desta instituição e que fins ela deseja ter quando recebe seus alunos, e se é isto que desejam as famílias. Neste caso não há certo ou errado, o que é verdade ou o que é mentira, no âmbito da escola privada seus corpos internos determinam seus fins e seu papel social e as famílias aderem ou não a ela. A adesão se faz por convicção e crença na proposta pedagógica, que é por definição o meio que cada escola escolhe para responder duas questões elementares: o que ensinar (currículo escolar) e como ensinar (metodologia). E neste caso também não há o certo, o verdadeiro, o melhor, o que há é novamente a crença da família em uma forma de educar.

A escola, como qualquer outra instituição em sua sociedade complexa e civilizada, é um universo científico multifacetado que envolve a pedagogia, a psicologia, a filosofia, entre outras ciências. É evidente que as famílias, e não poderia ser diferente, estão sempre preocupadas com a educação de seus filhos, a questão é como se pode manter a função da escola e ao mesmo tempo atender cada grupo familiar, e cada um deles tomado e posto em um universo de valores, crenças e práticas que necessariamente não se coadunam com as demais famílias e se afinam com as práticas da escola.

Não existem aqui facilidades, é preciso que se entenda que a escola tem um papel social, amplo e indistinto, as demandas de um ou alguns não podem sobrepor-se nem aos princípios da escola e nem às demais famílias. As tensões de interesses são saudáveis em qualquer instituição, desde que se possa sempre ter a parcimônia do diálogo e a compreensão de que há um cabedal científico norteando práticas cotidianas. A escola, a despeito de muitas e variadas ações sociais, é uma esfera complexa e profundamente elaborada, tanto quanto a medicina ou a química de um medicamento, por esta razão os limites para concessão.

É preciso entender o papel da escola e a condição particular de cada uma delas: uma escola religiosa tem valores diferentes de uma escola laica, uma escola de classe média alta em um centro urbano que cobra valores expressivos e se vocaciona para uma educação internacional é diferente de outra escola de bairro preocupada com o Enem e a Fuvest. Saber que escola estamos escolhendo para os nossos filhos e o que ela agrega ao grupo familiar é um dever. As instituições dialogam com seu tempo e sua realidade e, por conseguinte, se transformam para melhorar a interface com o mundo que as cerca.